21.12.10

Ba Gua

.... Ela se satisfazia em manter a plateia extática com suas passagens oraculares, assim mesmo, feitas para serem interpretadas da maneira que bem entendêssemos. Poderíamos encher o esqueleto de suas frases com a carne que tivéssemos às mãos, em mente.
.... Ela se expressava como se interpretasse o I ching em um stand up comedy. Das duas sílabas, oito personagens e sessenta e quatro movimentos. Dependendo de quem a ouvisse, ela poderia ser o pai, a mãe ou qualquer um dos seis irmãos (3 meninas e 3 meninos).
.... Ela fazia graça e deixava para que nós da plateia a movimentássemos.
.... A mudança não estava nela, mas no intérprete.

17.12.10

Então. Ela sai da cidade e ruma a um salvador. Empacota tudo, inclusive os filhos. Pronto. Em vez de 300 agora são 1900 e essa é a grande e única diferença, já que ela não passa de um enredo. Existe um nanômetro de concretude, sim, o resto é criação minha, meu próprio monstro discursivo de uma noite clichê de relâmpagos e ecos de igreja. Minha Frank não entende seu criador. O criador não sabe porque a fez, mas se delicia na construção anual. Me beijou? Não. Aceitou um toque? Quase. Ai, preciso de Bach tocado em um órgão tubular no centro de uma cidade gótica prá poder continuar.

13.12.10

Lavra

Destino impossibilidades sem sentido
quaisquer aos ouvidos
Desatino sorvido
redesenhado
e
solto num vento
Fim

7.12.10

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Eu trafego na minha contramão. Ofegante. Vou no meu sentido oposto com o objetivo certo e planejado de não chegar nunca no lugar: seja lá ele qual for. Seja ali ela o que for. O importante é sempre estar distraído prá emaranhar-me no próximo novelo sem sentido com o objetivo certo e planejado de, despretensiosamente,  não chegar nunca em algum lugar que possa servir de referência. Referências levam a caminhos corretos. Mas, nós, isto é, eu não pretendo chegar. O importante é estar sempre emaranhado prá  distrair-me com o próximo novelo e, muito mais importante que todo o resto, é sempre tentar lembrar a cor.